De professor a treinador de futebol profissional

Ao longo de uma década, Alexandre Santos encontra no ensino a sua principal atividade, embora tenha mantido sempre o contacto com o mundo do futebol. Esta vertente de lecionista surge após a conclusão do curso, em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana, e se candidata a docente na Escola Superior de Desporto de Rio Maior. Inicia assim a sua atividade como assistente de José Peseiro e, após o clube do treinador subir à Primeira Divisão, assume o papel de professor responsável pela área de futebol neste Instituto.  

Durante o período em que ambos estiveram a lecionar, surge a boa ligação que os leva a uma viagem juntos ao longo de vários anos, dentro e fora do país. Antes de embarcar na aventura até à Arábia Saudita, ancora no Estoril Praia, como adjunto de Daúto Fáquirá. Aqui começa o seu percurso no futebol de alta competição.

 

“Serei sempre grato” a Peseiro

Durante cinco anos divide-se entre o mundo do futebol profissional e o do ensino. Em 2010, o convite de Peseiro para seu adjunto leva-o até ao estrangeiro e afasta-o da escola. Começa aí o caminho num território totalmente desconhecido e único, o qual marcará para sempre o seu percurso. Por isso, “sou e serei sempre grato a quem me permitiu ter determinadas coisas”.

Peseiro possibilitou-lhe “aprender muito com ele por ser já um treinador muito experiente.” Oportunidades positivas surgiram “no campo desportivo e económico, as quais não se tem quase nunca na vida e nem sei se algum dia voltarei a ter:  as de trabalhar ao mais alto nível com jogadores fantásticos e de TOP”.

 

O fanatismo desportivo

Apesar das experiências no exterior terem sido curtas, “foram fantásticas pela exigência e pela sua envolvência”. No Al Ahly, clube egípcio, a experiência “é muito difícil de descrever por ser um país com muitas particularidades. Tem cerca de 90 milhões de pessoas, onde a grande maioria ama o futebol e é completamente fanática por um dos dois grandes clubes: o nosso e o Zamalek.”

Essa adoração é clara quando “no primeiro treino tivemos 15 mil pessoas em torno do relvado e mais uns milhares à porta por já não poderem entrar. Não havia um único dia em que eu como adjunto não tirasse fotos com adeptos na rua. Isso nunca me aconteceu em mais sítio nenhum.”

Após a permanência de três meses e meio, “viemos em fuga para o FC Porto”. Se não o fizéssemos, tenho dúvidas que conseguíssemos sair.” Essa dificuldade em abandonar o país deve-se ao facto de ser “um povo que não aceita que os troquem por quem quer que seja. De manhã tivemos treino, à tarde comunicou-se ao clube a saída e antes de acabar a reunião os adjuntos já tinham as malas feitas dentro dos táxis.” Apanharam o treinador José Peseiro e seguiram até ao aeroporto. Às 10 horas da noite foi quando a notícia estalou. Na internet circulavam milhares de mensagens porque eles são incrivelmente malucos por redes sociais e em minutos havia centenas de fãs em frente ao hotel a gritar os nossos nomes. A sorte é que já estávamos a embarcar”.

 

Extravagância nos Emirados Árabes Unidos

O ambiente futebolístico do Egito nada tem a ver com o que encontrou nos Emirados Árabes Unidos. “Não apresenta a mesma alegria, intensidade, exigência e qualidade”. Para além disso, tem “poucos adeptos e existência de pouca loucura pelo futebol. Em contrapartida, há muito, muito dinheiro. A qualidade de vida é muito elevada a todos os níveis, ainda mais para se viver em família. Tem de tudo o que possamos querer para viver muito bem”, como segurança, praia, divertimento, comércio, jardins…. Diria mesmo que a vida se torna irreal!”

 

Experiências fantásticas em Portugal

Em território nacional, as experiências “foram fantásticas. Quem pode dar-se ao luxo de passar duas vezes pelo Braga e uma pelo FC Porto, onde ganhei um título, disputei a Liga dos Campeões com grandíssimas equipas e duas Ligas Europa…” demonstra o quão positivas estas foram.  

Em qualquer país, “pode ser-se despedido pelos mais variados motivos e, por vezes, o contexto em que o treinador se encontra não é o mais favorável.” Apesar do afastamento no FC Porto, define a “experiência como fantástica, incrível e única para qualquer treinador de futebol! Se podia ter corrido melhor? Sim, podia, mas isso nem sempre ou quase nunca depende somente do trabalho do treinador”.

 

De adjunto a treinador principal

O salto para o papel de comando “fazia sentido, acima de tudo, pela necessidade de experimentar”. A oportunidade surgiu depois de uma conversa entre Alexandre e o Real Sport Clube para avaliar se “havia viabilidade de interesses em comum. Em dois dias estava decidido”: seria o treinador principal do clube, a poucos meses de terminar a época e da sua chegada do Dubai. Alguns meses depois, recebe o convite por parte do Estoril-Praia SAD para liderar a equipa de Sub23. “Como já conhecia o contexto e sabia ser muito profissional, aceitei”. Um novo desafio surge três meses e meio depois. Desta vez através do Sporting Clube de Portugal, para a mesma liga de competição. É aqui que permanece atualmente e considera estar “a encarar como uma experiência muito valorizadora, por ser uma realidade muito profissional e de elevado nível competitivo, numa liga muito interessante”.

 

Futuro aqui ou noutras latitudes…

“Estou bem em Portugal e na segunda equipa de um grande clube português. Mas como treinador profissional, não me posso fechar a nada. Também pelo facto de já ter passado por muitas experiências no estrangeiro, sei que algum dia muito provavelmente irei novamente partir para outras latitudes…, mas isso faz parte do que é ser treinador!”

 

Texto: Inês Ruivo

Imagem: Sporting Clube Portugal